Técnico-administrativo aposentado conquista título de doutorado

16:11 | 28 de janeiro de 2016

“Resolvi investir mais na vida acadêmica e me sinto muito mais ativo, como se não estivesse aposentado”.

 

Antônio Pedro Soares, técnico-administrativo em laboratório durante 37 anos na área de histologia, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), ao se aposentar, enxergou a oportunidade em continuar os estudos neste novo ciclo de vida. Conquistou o título de doutor em Ciência Veterinária na UFRPE, vindo a ser professor do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul (FAMASUL), parceira da UFRPE.

 

Com uma trajetória sindical longa e de muita luta, Antônio chegou à UFRPE no ano de 1974, quando o país ainda se encontrava no período de ditadura militar, ingressou no movimento sindical em 1978, ano de surgimento da ASUFERPE.

 

A associação dos servidores da UFRPE nasceu em um contexto de ressurgimento do movimento sindical brasileiro, quando os trabalhadores, pararam as máquinas das fábricas retomando a luta pela democracia. Ainda hoje, assim como Antônio, existem muitos pioneiros da antiga associação, participando dos movimentos e luta da nova entidade sindical, o SINTUFEPE/UFRPE, criada em 1992.

 

Antônio Pedro foi o último presidente da Associação dos Servidores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (ASUFERPE) e contribuiu ativa e diretamente para o processo de sindicalização.

 

 

SINTUFEPE – Em 1987 explodiram as greves que conquistaram a lei da isonomia. Como foi essa luta?

 

Antônio Pedro – Foi um marco histórico na vida dos trabalhadores deste país e, especificamente, dos servidores das universidades. Naquele período as universidades pagavam de forma diferenciada por região. Vale ressaltar que mais discriminadamente no Nordeste, tanto em relação aos técnicos quanto aos docentes. Então incorporamos a nível nacional, através da FASUBRA, o movimento de isonomia salarial. Mas nos deparamos com um agravante muito sério, pois quando estávamos em greve pela isonomia, o Congresso alegou que esse era um direito legítimo, porém não era legal. Diante disso nossa luta foi direcionada para construir e tornar a isonomia um direito legal. Pressionamos o Congresso Nacional e conseguimos aprovar uma legislação específica para tornar legal a isonomia salarial entre as universidades do país. Depois disso fizemos outra grande greve para que o então presidente Sarney sancionasse essa lei. Até hoje ganhamos com essa conquista, pois conseguimos trazer isso também para a aposentadoria.

 

SINTUFEPE – Você se aposentou, mas continua ativo profissionalmente, optando por voltar à universidade. Como foi esse processo?

 

AP – Eu passei 10 anos para terminar meu curso de graduação, pois coincidiu justamente com um período de muitas viagens à Brasília, era o período da sindicalização dos servidores públicos federais. Eram articulações a nível nacional, chegávamos a passar 15 dias em Brasília e isso interferia em todos os setores das nossas vidas. Mas depois de um bom tempo eu consegui voltar à atividade profissional no laboratório e sempre estimulei que o servidor trabalhasse, estudasse e militasse. Não é uma coisa fácil. Agora eu resolvi investir mais nessa vida acadêmica e me sinto muito mais ativo, como se não estivesse aposentado.

 

SINTUFEPE – Quais foram os benefícios de voltar à universidade?

 

Isso foi muito bom, porque geralmente o aposentado fica ocioso e muitos correm o risco terrível de entrar no alcoolismo, pois muitas vezes esse tempo é usado de forma inadequada. Pretendo voltar a militar de forma mais efetiva junto com os aposentados. Quero levá-los às ruas, aos movimentos sindicais, para as direções das entidades.

 

SINTUFEPE – Que recado você daria para os novos militantes?

 

AP – Antes de tudo é preciso ressaltar que nenhum direito se conquista sem greve. Ela é a arma principal do trabalhador, porque nenhum governo, nenhum patrão, irá ceder ou atender as reivindicações dos trabalhadores ou de qualquer movimento se não houver greve. Também é extremamente importante a organização desses protestos. O direito de organização é a arma do cidadão, do trabalhador, do estudante.

 

Matéria e imagem: Cris Sobral – jornalista do SINTUFEPE

 

 

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