Trabalhos da Tarde no Encontro Nacional de Saúde e Hospitais Universitários: Qualidade de Vida, Saúde no Trabalho e Segurança nas Instituições Públicas de Ensino Superior

20:16 | 23 de novembro de 2024

No segundo dia do Encontro Nacional de Saúde e Hospitais Universitários, as discussões à tarde focaram em um tema de grande relevância para as trabalhadoras e trabalhadores da saúde e da educação superior no Brasil: a Qualidade de Vida e Saúde no Trabalho e a Segurança do Trabalho nas Instituições Públicas de Ensino Superior. O painel sobre esse tema foi conduzido pela coordenadora e pelo coordenador de Saúde e Hospitais Universitários da FASUBRA Sindical, Eurídice Ferreira e Mário Júnior. Os palestrantes foram: a coordenadora-geral da FASUBRA, Cristina del Papa, que trouxe as informações sobre a Política de Atenção à Saúde do/a Servidor/a e as ações da FASUBRA voltadas à saúde do trabalhador e do palestrante Rui Paulo Dias Muniz da UFRGS que trouxe um histórico da discussão sobre Relação do Trabalho e da Saúde e Segurança do Trabalho.
A Saúde do Trabalhador na Agenda Sindical
A palestra de Cristina del Papa trouxe à tona a necessidade urgente de se avançar nas políticas públicas e de gestão nas universidades institutos federais no que se refere à saúde e segurança do trabalho dos servidores. A coordenadora-geral da FASUBRA destacou as ações que a entidade tem promovido ao longo dos anos, visando a implementação de práticas que garantam melhores condições de trabalho, proteção à saúde mental e física dos trabalhadores e maior atenção aos exames periódicos e à avaliação ambiental nos locais de trabalho.
Exames Periódicos e Avaliação Ambiental
Entre as questões discutidas, um dos principais tópicos foi a realização de exames periódicos e a avaliação ambiental nas instituições federais de ensino. Del Papa ressaltou que, apesar da existência de normas que determinam a obrigatoriedade desses exames para a identificação de possíveis riscos à saúde dos trabalhadores, muitas instituições federais ainda não cumprem integralmente essas exigências. Ela destacou, ainda, que é essencial que as condições ambientais de trabalho – que incluem iluminação, ventilação, ergonomia e exposição a agentes nocivos – sejam periodicamente avaliadas para garantir a segurança do trabalhador.
A saúde mental também foi um tema central nas discussões. Com o aumento das cobranças, a sobrecarga de trabalho e as condições adversas nos ambientes de trabalho, muitos servidores têm sofrido com o estresse, ansiedade e outros problemas emocionais. A FASUBRA tem se empenhado na discussão de políticas e na reivindicação de ações que abordem de maneira mais eficaz o cuidado com a saúde mental dos trabalhadores.
A Implantação da Comissão Interna de Saúde do Servidor (CISSP)
Outro ponto de destaque na mesa foi a cobrança da FASUBRA pela implementação da Comissão Interna de Saúde do Servidor (CISSP) nas instituições federais.de ensino. A CISSP, de acordo com Cristina, é um instrumento fundamental para a promoção da saúde e segurança no trabalho, pois deve atuar como um espaço de diálogo e ações compartilhadas dentro das instituições federais, com o objetivo de identificar riscos, planejar ações de prevenção e monitorar a implementação de políticas de atenção à saúde para os/as servidores/as.
A falta desse instrumento e de compromisso do governo federal e das instituições federais de ensino para a criação da CISSP foi apontada como uma das principais falhas na proteção dos servidores. Sem esse espaço, a comunicação entre trabalhadores e gestores sobre os problemas de saúde no trabalho fica fragilizada, dificultando a resolução de questões importantes relacionadas à segurança e ao bem-estar no ambiente de trabalho.
Palestra de Rui Paulo Dias Muniz no Encontro Nacional de Saúde: Segurança do Trabalho nas Instituições de Ensino Superior e a Construção de Políticas Eficientes
A Segurança do Trabalho nas Universidades
Muniz começou sua exposição destacando a complexidade dos ambientes de trabalho nas universidades, que envolvem uma grande diversidade de atividades e, consequentemente, diferentes tipos de riscos ocupacionais. Ele ressaltou que a segurança no trabalho nas instituições federais de ensino, muitas vezes, é tratada de maneira superficial, o que aumenta a vulnerabilidade dos trabalhadores, que vão desde os servidores administrativos até os docentes e técnicos que atuam em laboratórios e hospitais universitários.
“A segurança no trabalho precisa ser uma cultura compartilhada por todos os membros da instituição. Não se trata apenas de adotar normas de segurança, mas de incorporar essas práticas ao dia a dia, de forma que todos compreendam o seu papel na criação de um ambiente de trabalho seguro e saudável”, afirmou Muniz. Ele sublinhou que a falta de uma abordagem integrada e contínua sobre segurança é um dos fatores que contribui para a alta taxa de acidentes e doenças ocupacionais nas instituições federais de ensino.
Riscos Ocupacionais e a Relação de Trabalho e Saúde
Rui Paulo Dias Muniz também abordou a relação entre trabalho e saúde, destacando que muitas doenças e acidentes nas instituições federais estão diretamente ligados às condições de trabalho. “Doenças como a síndrome de burnout, estresse, distúrbios musculoesqueléticos e problemas respiratórios são comuns em ambientes acadêmicos, especialmente quando a carga de trabalho é excessiva e as condições de segurança são inadequadas,”. Ele apontou que, frequentemente, a saúde do trabalhador é negligenciada em favor de metas acadêmicas e de produção, o que resulta em um aumento significativo de casos de adoecimento.
Muniz também enfatizou como a sobrecarga de trabalho, a pressão constante e a falta de ergonomia nos ambientes acadêmicos podem desencadear sérios problemas de saúde, muitas vezes agravados pela falta de políticas preventivas e de acompanhamento adequado. Nesse contexto, ele enfatizou também que a criação de um ambiente de trabalho saudável não deve ser vista como uma opção, mas como uma responsabilidade das instituições federais de ensino.
A Necessidade de Construir Políticas Públicas Técnicas e Científicas
Rui Paulo Dias Muniz levantou um ponto fundamental: a necessidade de construir políticas de saúde e segurança do trabalho baseadas em fundamentos técnicos e científicos. Ele explicou que, para que as políticas públicas de saúde no trabalho sejam eficazes, é imprescindível que sejam elaboradas a partir de um diagnóstico preciso dos riscos ocupacionais e das necessidades específicas de cada instituição. “Não podemos mais tratar a segurança do trabalho de maneira genérica. Precisamos de políticas que atendam às particularidades de cada ambiente e que sejam sustentadas por dados científicos que comprovem sua eficácia,” afirmou.
O Papel das Instituições e a Responsabilidade Coletiva
Ao concluir sua palestra, Muniz reforçou a ideia de que a segurança do trabalho é uma responsabilidade coletiva. Para ele, é fundamental que todos os membros das instituições – desde a administração até os trabalhadores – se envolvam ativamente na promoção de um ambiente de trabalho saudável e seguro. Ele defendeu a necessidade de um esforço conjunto para reduzir os riscos ocupacionais, promover a saúde física e mental dos trabalhadores e garantir condições adequadas para que possam desempenhar suas funções com dignidade e sem comprometer sua saúde.
Este tema no encontro foi um marco importante na discussão sobre saúde e segurança do trabalho nas instituições federais de ensino, destacando que, apesar dos avanços, há muito a ser feito para garantir que os trabalhadores estejam protegidos e que as políticas de saúde e segurança sejam adequadamente implementadas.
A palestras ministradas por Cristina del Papa e de Rui Paulo Dias Muniz mostrou, mais uma vez, que a construção de um ambiente de trabalho saudável depende de ações coordenadas e contínua, sustentada por políticas públicas eficazes e fundamentadas em conhecimento técnico e científico.
O Encontro Nacional de Saúde e Hospitais Universitários tem como slogan “Por uma gestão democrática e 100% SUS”.

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