Organização dos/as Trabalhadores/as nos Hospitais Universitários e a Ocupação dos Espaços Deliberativos no Âmbito da EBSERH: Desafios e Perspectivas no Encontro Nacional de Saúde
No segundo dia do Encontro Nacional de Saúde e Hospitais Universitários, realizado na manhã deste sábado(23), um dos principais temas em debate foi a situação dos trabalhadores e a gestão dos Hospitais Universitários (HU) após a adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). A discussão sobre a organização dos/as trabalhadores/as nos hospitais universitários e a ocupação dos espaços deliberativos, no contexto da administração da EBSERH, trouxe à tona uma série de desafios enfrentados por profissionais da saúde, principalmente aqueles concursados, sob o regime jurídico único (RJU), desde que a EBSERH assumiu o controle da gestão desses hospitais.
A Realidade dos Profissionais Concursados
Com a adesão dos hospitais universitários à EBSERH, muitos profissionais concursados passaram a vivenciar um cenário de profundas mudanças, com impactos significativos no ambiente de trabalho e nas condições de atendimento à população. Representates da categoria, presentes no evento, compartilharam relatos das realidades vividas nas diversas regiões e estados. O corte de verbas, a substituição de servidores concursados por trabalhadores contratados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a falta de avaliação das universidades sobre os impactos dessa mudança foram destacados como os principais problemas enfrentados.
A EBSERH, criada com a proposta de otimizar a gestão dos hospitais universitários, tem sido alvo de críticas por não garantir a qualidade do atendimento, especialmente para os pacientes mais vulneráveis. Esses hospitais, que antes se destacavam pelo atendimento de urgência e pela realização de cirurgias eletivas, estão cada vez mais voltados para uma gestão que prioriza a lógica de mercado, em detrimento de uma visão mais humanizada e voltada para o ensino e a pesquisa, características fundamentais das instituições universitárias.
O Impacto na Formação de Profissionais de Saúde
Uma das principais preocupações levantadas no encontro é o impacto da gestão da EBSERH na formação de novos profissionais da saúde. Os Hospitais Universitários, tradicionalmente, são responsáveis pela formação de médicos, enfermeiros, e outros profissionais da área da saúde, oferecendo não apenas o ensino teórico, mas também a experiência prática em situações de alta complexidade, como atendimentos de urgência.
Com a redução do número de leitos e a diminuição do atendimento a emergências, muitos desses hospitais estão deixando de ser referências para a formação de profissionais qualificados, capazes de atuar em cenários de grande demanda. Isso representa um sério retrocesso para a educação médica no Brasil, especialmente no que diz respeito à capacitação para o atendimento de urgências e emergências, fundamentais no sistema público de saúde.
A Fragmentação dos Trabalhadores e o Retrocesso Social
Outro ponto de destaque foi a divisão criada dentro da categoria dos trabalhadores. A diferenciação entre os servidores concursados, sob o regime RJU, e os contratados sob o regime CLT tem gerado tensões e enfraquecido a unidade dos trabalhadores, o que prejudica as lutas por melhores condições de trabalho e por direitos mais amplos. A dualidade de classes no ambiente de trabalho tem provocado uma competitividade indesejável entre os profissionais, além de dificultar a mobilização para questões comuns, como as campanhas salariais e a defesa dos direitos trabalhistas.
O retrocesso social, conforme apontado pelos participantes do evento, se reflete não só na precarização das condições de trabalho, mas também em uma política de saúde que caminha para um modelo neoliberal. Nesse cenário, a saúde deixa de ser vista como um direito fundamental, para ser tratada como uma mercadoria, com as prioridades cada vez mais voltadas para o lucro, ao invés do atendimento qualificado à população.
O Adoecimento no Local de Trabalho
A administração da EBSERH também tem contribuído para o processo de adoecimento dos trabalhadores dentro dos hospitais universitários. O aumento da carga de trabalho, as condições precárias de infraestrutura e a constante pressão por resultados têm levado muitos profissionais a desenvolverem quadros de estresse e esgotamento físico e mental. O ambiente de trabalho, antes considerado um espaço de formação e cuidado, tem se tornado um local de sofrimento para muitos, o que compromete diretamente a qualidade do atendimento prestado à população.
Saúde Não é Comércio
Por fim, a mesa foi encerrada com um apelo enfático de que “saúde não é comércio”. A crítica ao modelo de gestão da EBSERH, que trata os hospitais universitários como uma empresa e não como uma instituição de ensino e de cuidado à saúde, foi uma constante nas falas dos participantes. Para muitos trabalhadores, a luta não é apenas por melhores condições de trabalho, mas pela defesa de um sistema de saúde pública que respeite os direitos dos profissionais e atenda com qualidade as necessidades da população.
A conclusão desta mesa no Encontro Nacional de Saúde e Hospitais Universitários reafirmou o compromisso de todos os envolvidos com a luta pela preservação da qualidade do atendimento nos hospitais universitários, pela valorização dos trabalhadores da saúde e pela defesa de um sistema de saúde público, universal e gratuito para todos.
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