CNG debate o tema “opressão e racismo nas universidades” na UnB

20:31 | 21 de novembro de 2016

 

Reflexão e continuidade da luta marcaram a fala dos técnicos administrativos na semana da Consciência Negra.

 

Iniciando a semana o Comando Nacional de Greve (CNG) participou nesta manhã, 21, do debate sobre “Opressão e racismo nas universidades”, pela semana da Consciência Negra, na Universidade de Brasília (UnB). Foram convidados para a mesa de discussão Richard Santos, diretor de relações internacionais da União de Negros e Negras pela Igualdade (UNEGRO) e professor da UnB, Luiz Macena (Luizão) do sindicato da Bahia e Antônio Alves, coordenador da Estaduais da Fasubra. Coordenaram a mesa Roberto Luiz. (Robertinho) e Ângela Targino, coordenadores de raça e etnia da Federação.

 

O prof. Richardson comparou o período histórico de resistência dos quilombos com o sindicalismo no Brasil, principalmente na luta pelos direitos trabalhistas. Segundo o professor, a base de construção quilombola era contra o trabalho forçado e pelo direito a salário, descanso e  folga, reivindicações semelhantes às atuais em face da proposta do atual governo de reforma trabalhista e terceirização que ameaça direitos conquistados.

 

Citou o discurso do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela pela luta contra o racismo e por uma sociedade livre, “em uma sociedade racista somos todos vitimizados”.  Santos afirmou que, segundo os dados do Mapa da Violência 70% dos jovens assassinados no Brasil são negros. “A maioria das mortes com tiro na nuca e facada nas costas”.

 


 

 

Os números da última década, de acordo com o professor, revelam que se comparado à países como Afeganistão e Iraque em conflito armado com o Estado Islâmico, o Brasil ainda apresenta o maior número de mortes.

 

Santos atribui as causas da violência à falta de acesso a direitos básicos que impedem a entrada do jovem negro na Universidade pública. Como exemplo de retrocesso em políticas públicas citou a tramitação no Senado Federal da PEC 55/16, que reduz investimentos em saúde, educação, segurança e demais áreas, “está para ser aprovado sem consulta popular”.

 

Inversão da pirâmide

 

Santos falou sobre a ocupação de espaços de poder, como as universidades públicas, onde a burguesia se prepara em escolas privadas com acesso mais amplo à educação pública. “A maioria não negra, não vindo do ensino público ocupando esses espaços”. Também questionou o tratamento aos estudantes negros pela polícia dentro dos campi. “ A maioria que sofrem o baculejo nas universidades são os negros, como na UnB”.

 


 

 

Questionou àqueles que questionam a política de cotas nas universidades. “Balela de cotas para que? Somos todos iguais! Pra que dia da consciência negra?”. De acordo com o professor, a história de cotas no Brasil sempre existiu, “a partir do momento em que D. João fez a distribuição de terras para a elite”.

 

“O Brasil tem história de reforma agrária para brancos descendentes de europeus. A gente precisa reconstruir nossa narrativa”, acrescentou o professor sobre a distribuição de terras durante a monarquia e após a instituição da república. “Precisa fazer a reforma agrária de forma ampla, irrestrita no país”.

 

Santos também destacou o papel do trabalhador técnico-administrativo dentro do sindicato para pensar e debater a  emancipação da questão racial, em busca de um Brasil plural e diversificado. “Por isso é importante estar dentro do sindicato”.

 
 

Consciência de luta

 

Luiz Macena, conhecido como Luizão, de Salvador-BA, foi diretor da FASUBRA em outras gestões.  Contou a história sobre a constituição da coordenação de raça e etnia da FASUBRA e a criação de Grupos de Trabalho itinerantes pelo país. “Houve muitos problemas para ter isso aqui, não caiu do céu!, se referindo à luta dentro da própria categoria para abrir espaço ao debate sobre racismo.

 

Também relembrou a campanha Zumbi Mais 10, evento promovido pela FASUBRA com a produção de 2 mil camisetas. Citou a luta dos trabalhadores no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) por políticas étnico-raciais e a instituição da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Sepir) no governo Lula, “por conta de uma luta nossa. Não somos coitadinhos, temos cabeça pensante para fazer o debate, discutir a questão de cotas no país”.

 


 

 

Luizão falou sobre a violência nas favelas da Bahia, “o que morre de gente naquelas favelas!

Batem primeiro pra depois pedir o documento”. Para ele, a PEC 55/16 pode prejudicar a população negra no país, “com essa PEC as coisas vão piorar ainda mais”, se referindo à redução de investimento em saúde e educação. Também destacou a preocupação em manter o debate sobre as questões raciais entre os técnicos administrativos.

 

Resistência  

 

Antônio Alves (Toninho), coordenador das Estaduais da FASUBRA afirmou que “a  invisibilidade do negro na Universidade, embora a maioria seja negra, cria uma certa dificuldade e nos coloca em um patamar de trabalhos inferiores à nossa capacidade”.

 

Trouxe a inversão de significado do mês de novembro, antes considerado como novembro negro, hoje tem como referência a luta contra o câncer de próstata, nominado novembro azul.

 

Toninho destacou a necessidade do processo de reflexão e luta, realizando o debate na busca da identidade da mulher negra e do jovem negro, principais focos da violência e preconceito. “A mulher negra que é subjugada na sua profissão, a FASUBRA precisa fazer o debate sobre mulher negra e o feminismo”.

 


 

 

Também trouxe elementos da política internacional referente à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. De acordo com Toninho, jovens negros da periferia norte-americana não estão de acordo com a vitória de um presidente conservador, que revelou traços de machismo, xenofobia e homofobia, se referindo aos protestos com cartazes que diziam: – Aceitamos o governo, porém , resisitimos!

 

Falou sobre os diversos quilombos urbanos no Brasil que muita gente desconhece, chamados de quilombos de refúgio. “Os estudantes da UnB estão fazendo um quilombola aqui!” Afirmou Toninho, se referindo à ocupação dos estudantes na Reitoria da universidade. “Os negros que entram por cotas não são bem recebidos e não tem apoio da universidade, por esse motivo, na UnB, estão formando um diretório acadêmico negro. Apesar das cotas, ainda estamos acessando cursos de “menor” valor no Brasil”, afirmou.

 

Para o coordenador, é necessário que os técnicos administrativos pensem a educação e um modelo de igualdade no país. Com a Lei da Mordaça (Programa Escola Sem Partido), “o jovem vai para a escola técnica, sendo um mero apertador de parafuso”, disse Toninho. “Daqui a 20 anos vamos ver o resultado, se sobreviverem ao genocídio da juventude negra no país”, finalizou o coordenador.

 

O debate foi aberto ao CNG com ampla participação.

 

Assessoria de Comunicação FASUBRA Sindical

 

 
 

 

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