As mulheres e o combate ao novo coronavírus – COVID-19

15:58 | 31 de março de 2020

O presidente Jair Bolsonaro novamente comprovou seu machismo declarado, no domingo (29/03), com um exemplo de violência doméstica, ao criticar o isolamento social e defender a volta de profissionais ao trabalho, apesar das medidas de restrição de circulação tomadas em todo o mundo para conter a velocidade de transmissão da pandemia do COVID-19. “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar, meu Deus do céu. É crime trabalhar?”, ironizou.

No Brasil, dados recentes mostram que em vários estados as denúncias de violência contra as mulheres cresceram com o isolamento social. O Rio de Janeiro se destaca com um aumento de 50% dos casos nos primeiros dias da pandemia, de acordo com Defensoria Pública do Estado.

O período do isolamento e o aumento da convivência dentro de casa com os agressores, que muitas vezes são seus companheiros, faz com que sejam ainda mais intimidadores em momentos de pressão psicológica, segundo especialistas. Mas a crise econômica não pode ser justificada como motivo para qualquer tipo de abuso, como aponta de forma irresponsável o presidente. O problema é a intensificação do machismo estrutural nas relações interpessoais. E se há dificuldades financeiras, é dever do Estado garantir o direito à quarentena e não estimular violência com o discurso de ódio.

Além do crescimento da violência doméstica, a ONU Mulheres revela que as mulheres são as mais atingidas pela crise do coronavírus, já que globalmente representam 70% das pessoas que trabalham nos setores social e de saúde e são responsáveis pelos cuidados não-remunerados em casa, três vezes mais do que os homens.

“Historicamente somos colocadas em trabalhos de cuidado. Somos maioria nos cargos de enfermeiras, técnicas de enfermagem e cuidadoras de idosos, mas não em médicas. Mesmo assim, são as mulheres que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Inclusive as de limpeza de hospitais”, destaca a Coordenação da Mulher Trabalhadora da FASUBRA Sindical.

Ainda segundo levantamento da ONU Mulheres, além da maioria das profissionais de saúde ser do sexo feminino, elas se sobrecarregam com a carga dupla de cuidados com filhos e com a casa, já que escolas e creches estão fechadas, e também estão em maior número na informalidade e sem garantias. “Globalmente, as mulheres continuam sendo remuneradas 16% menos que os homens, em média, e a disparidade salarial sobe para 35% em alguns países”, analisa.

A ONU Mulheres elaborou um conjunto de recomendações, colocando as necessidades e a liderança das mulheres no centro da crise no combate ao COVID-19. Veja as medidas ao final do texto: https://bit.ly/2UOGqt8.

Felizmente, nesta segunda-feira (30/03), o Senado Federal aprovou o auxílio emergencial, no valor de R$ 600,00 a pessoas de baixa renda, desempregadas e trabalhadoras e trabalhadores informais. O auxílio pode chegar a R$ 1.200,00 e beneficiar até duas pessoas da mesma família, além de mães solo ou famílias monoparentais, que poderão acumular duas rendas. Essa medida que beneficia especificamente às mães solo é uma conquista das mulheres, tendo em vista que entre os cadastrados no CADúnico (Cadastro Único) predominam o arranjo monoparental feminino (36,1%) e, entre as famílias monoparentais femininas, há predominância da situação de extrema pobreza (65%).

A aprovação da proposta foi uma derrota ao governo, que previa inicialmente um valor de apenas R$ 200,00. As emendas de mérito devem ser discutidas nesta terça-feira (31/03), por meio de projeto complementar. A proposta ainda precisa ser sancionada pelo Executivo.

A Coordenação da Mulher Trabalhadora da FASUBRA Sindical repudia as declarações, atitudes e a condução da crise pelo presidente e defende um olhar mais atento às mulheres durante a pandemia.

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Todas as vidas importam e precisam ser protegidas!

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