28 de março – Dia Nacional de luta dos estudantes

11:20 | 29 de março de 2017

 

 

Na história do Brasil, estudantes protagonizam movimentos em defesa de direitos desde o regime militar à atualidade.

 

Em memória à luta dos estudantes brasileiros a FASUBRA Sindical abordou o tema das ocupações das escolas públicas pelos estudantes secundaristas em 2016, um dos maiores movimentos estudantis após a ditadura militar.

 

A conjuntura política durante a  tentativa de retirada de direitos pelo governo de Michel Temer propiciou um grande movimento de resistência à aprovação da PEC 55/16 no Congresso Nacional: as ocupações dos estudantes.

 

O movimento dos estudantes em contraposição  à Medida Provisória 746 de 2016 (Reforma do Ensino Médio), começou na madrugada do dia 03 de outubro, na Colégio Estadual Arnaldo Jansen em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba-PR.

 

De acordo com a estudante e símbolo  da resistência Ana Júlia Ribeiro, foram ocupadas oito escolas em apenas dois dias e em seguida o maior colégio estadual. “ Depois que o Colégio Estadual do Paraná foi ocupado, as ocupações tomaram lugares inacreditáveis, e isso deu um pouco mais de visibilidade ao movimento”.

 

1.100 escolas ocupadas

Após o fato, a informação sobre as ações começou a circular dentro do estado. Foram 100 escolas ocupadas por dia, segundo Ana Júlia: “em 15 dias ocupamos 850 escolas no estado do Paraná e 1.100 escolas em todo o Brasil”. Ainda haviam ocupações em Minas Gerais e Rio de Janeiro até o início de 2017.

 

As ocupações começaram porque os estudantes da rede pública de ensino não reconheciam a legitimidade do governo para propor uma Reforma do Ensino Médio. Para Ana Júlia, o principal objetivo do movimento era proporcionar aos estudantes atividades inexistentes no cotidiano escolar. “Fazíamos debates, oficinas e rodas de conversa, tínhamos aula sobre a cultura afro e como fazer boneca de pano. As ocupações têm a característica de proporcionar ao aluno o que ele busca e não encontra na escola”.

 

Repressão

Diante da repercussão nacional as ocupações passaram por forte repressão, segundo Ana Júlia, tanto física quanto psicológica. Segundo ela, “a psicológica ao meu ver foi a pior e mais difícil e deu ênfase para o fim das ocupas”.

 

29 de novembro

A repressão da polícia militar às manifestações também afetaram os estudantes das ocupações, segundo Ana Júlia. No dia 29 de novembro em Brasília-DF, no primeiro turno de votação da PEC 55/16 (teto dos gastos) no Senado, ocorreu forte repressão por parte da polícia militar do Distrito Federal.

 

Na ocasião, estudantes, trabalhadores do movimento sindical e social  foram duramente reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, forte aparato policial com carros, tropa de choque, cavalaria e helicópteros. “Foi uma repressão enorme, poderia ter dado uma repercussão positiva, mas não aconteceu. Isso abriu os olhos dos estudantes pra ver esse estado violento que a gente vive. Ficar seis horas na Esplanada tentando manifestar sua indignação e não conseguir e mesmo depois do final do ato a polícia perseguir  os estudantes pelas ruas, é absurdo”, desabafou Ana Júlia.

 

A criminalização da manifestação em redes sociais e na sociedade como um todo marginalizando estudantes e trabalhadores também mexeu com as ocupações. “Cada um age de forma diferente, por isso estamos procurando apoio psicológico para os estudantes dentro das universidades federais”, afirmou a estudante.

 

Grupo de desocupações

Houve movimentos contrários às ocupações como o “Desocupa Paraná” comandado pelo Movimento Brasil Livre (MBL). Ana Júlia testemunhou de perto as ações do movimento,  que “tinham o intuito de chegar nas escolas e invadir, porque eles não eram alunos ou pessoas que trabalhavam naquelas instituições, ou que tinha alguma ligação indireta. Chegavam pra quebrar portão, bater  na cara de aluno, pra poder entrar nas escolas. Isso pra mim é invasão”.

 

Para a estudante, a ocupação era legítima por serem instituições de ensino a qual frequentavam, “um espaço nosso, onde estamos todos os dias, não precisamos depredar a escola em momento algum ou utilizar de violência para entrar naqueles locais, essa é uma grande diferença”. Os grupos vinham na tentativa de desocupar por meio de violência.

 

Nesta questão, segundo Ana Júlia, os estudantes ficavam em desvantagem por não conseguirem se locomover com rapidez, pois o outro movimento usava carros se deslocando com facilidade de uma instituição à outra.  “Foram noites de tensão e terror em Curitiba no final de outubro. É bem triste ver uma parcela da sociedade com essas atitudes infantis, ainda mais pra gente que não tinha experiência e uma visão um pouco inocente do mundo, pensando: vamos respeitar o direito de quem está aqui, e não foi bem isso que aconteceu”.

 

As ocupações tem o contexto de liberdade política, são apartidárias, mas tinham um caráter político forte, de acordo com a estudante, assumindo uma bandeira progressista.

Houve um processo longo para as ocupações, segundo Ana Júlia, “para ocupar minha escola realizamos duas assembleias, fizemos o planejamento, dividimos as tarefas, as comissões de administração, de limpeza, de cozinha etc”.

 

Aprovação da MP 746

A Medida Provisória 746/16 foi aprovada no dia 08 de fevereiro no Senado Federal, por 43 votos a 13. “A luta se diferencia agora em denunciar todos os processos que a MP vem colocar e se guiar por outro meio de resistência”, afirmou Ana Júlia.

 

Atualmente o movimento tenta se renovar em outros meios. Na história do Brasil, estudantes protagonizam movimentos em defesa de direitos desde o regime militar à atualidade. No dia nacional do estudante, 28 de março, relembramos o estudante símbolo da resistência estudantil contra a ditadura militar.

Edson Luís presente!

A resistência estudantil contra a ditadura militar resultou no estopim nacional no dia 28 de março de 1968. Durante a manifestação realizada por estudantes no restaurante “Calabouço”, no Rio de Janeiro, o estudante Edson Luís de Lima Souto, 18 anos, foi assassinado.

Souto era de família pobre, natural da cidade de Belém-PA, se mudou para o Rio de Janeiro para cursar o antigo segundo grau (ensino médio), no Instituto Cooperativo de Ensino, que funcionava no restaurante.

 


 

Os estudantes não permitiram que o Instituto Médico Legal (IML) levasse o corpo de Souto, para evitar o desaparecimento pela polícia militar. Em passeata, o levaram para ser velado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O jovem estudante foi enterrado ao som do Hino Nacional, cantado por uma multidão de brasileiros indignados com a crueldade da polícia militar na época, um dos aparelhos repressores do estado brasileiro.

Feridos

Seis pessoas foram feridas no tiroteio, segundo o registro de ocorrência nº 917 da 3ª Delegacia de Polícia, Telmo Matos Henrique, Benedito Frazão Dutra (morto após a ação militar), Antônio Inácio de Paulo, Walmir Gilberto Bittencourt, Olavo de Souza Nascimento e Francisco Dias Pinto.

Manifestações

Durante os sete dias após sua morte, foram realizados vários protestos em todo o país. Em São Paulo (SP), houve manifestações na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), no Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade São Francisco, na Escola Politécnica da USP e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Esse capítulo da história do Brasil e a recente intervenção dos estudantes secundaristas traz à memória a luta por uma educação pública, gratuita, de qualidade, em defesa da democracia, da liberdade e contra qualquer tipo de repressão.

 

A FASUBRA permanece nessa luta!

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