Condução coercitiva de reitor da UFMG por Polícia Federal levanta questionamentos sobre abusos

13:21 | 8 de dezembro de 2017


 

 

Reincidência de caso semelhante ocorrido na UFSC acende um alerta na comunidade universitária contra arbitrariedades.

 

Na última quarta-feira, 06, o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor Jaime Arturo Ramirez, foi alvo de condução coercitiva em uma ação da Polícia Federal (PF). A operação batizada de “Esperança equilibrista” investiga suspeita de supostos desvios de recursos  no projeto Memorial da Anistia, inacabado por falta de verbas.

 

A atual vice-reitora da UFMG e reitora eleita da instituição, professora Sandra Regina Goulart Almeida,  e as ex-vice-reitoras Rocksane de Carvalho Norton e Heloisa Gurgel Starling, a servidora Técnico-Administrativa, Silvana Leal Coser, e o atual diretor da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP), professor Alfredo Gontijo, também foram levados para a Superintendência da PF. Todos foram conduzidos sem saber as razões da ação, sem qualquer conhecimento do processo e sem direito a advogados (somente posteriormente é que os advogados puderam acompanhar os detidos).

 

Em rápida ação de mobilização, técnico-administrativos em educação, professores e estudantes foram para a porta da PF acompanhar o processo e exigir transparência e respeito às leis na condução das supostas investigações.

 

Após liberação, o reitor Jaime Ramírez afirmou aos integrantes da comunidade universitária reunidos em frente ao prédio da Reitoria, que, “a UFMG nunca se curvou e nunca se curvará ao arbítrio. Vamos resistir sempre”.

 

Neide Dantas, coordenadora de Comunicação da FASUBRA Sindical e também coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino (SINDIFES) que representa trabalhadores da UFMG e de outras instituições mineiras, destacou que técnicos, docentes e estudantes devem se unir em defesa da universidade pública e gratuita, após a o fato ocorrido. “Não por acaso, o alvo da ação é o Memorial da Anistia, que aborda um tema, a ditadura, ainda tão difícil de tratar no Brasil”. Segundo ela, as investigações devem seguir os princípios legais. “Os gestores poderiam ter sido chamados a depor sem o recurso da condução coercitiva”, completou.

 

Reincidência

A reincidência de caso semelhante acende um alerta na comunidade universitária contra arbitrariedades. No dia 03 de outubro deste ano, o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, 60 anos, tirou a própria vida, após ser conduzido coercitivamente em uma operação da PF. “Decretei minha morte no dia da minha prisão”, desabafou o reitor no bilhete encontrado em seu bolso pela polícia.

 

O abuso em ações da Polícia Federal tem sido alvo de críticas e questionamentos de entidades da sociedade civil e parlamentares. Afastado das funções administrativas e acadêmicas por determinação judicial, Cancelier foi acusado por obstrução de justiça. Para a FASUBRA, as ações da polícia e justiça federal são foram consideradas desproporcionais diante dos fatos e da disponibilidade de colaboração do reitor e da administração no caso.

 

Andifes

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) em nota criticou a ação da polícia, questionando a repetição do fato ocorrido há dois meses na UFSC. “É notória a ilegalidade da medida, que repete práticas de um Estado policial, como se passou com a prisão injustificada do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, da Universidade Federal de Santa Catarina, há pouco mais de dois meses”.

 

Para a Andifes, “o desprezo pela lei e a intenção política de calar as Universidades, lócus do pensamento crítico e da promoção da cidadania, podem justificar a opção de conduzir coercitivamente, no lugar de simplesmente intimar para prestar as informações eventualmente necessárias. Ações espetaculosas, motivadas ideologicamente e nomeadas com ironia para demonstrar o desprezo por valores humanistas, não ajudam a combater a real corrupção do País, nem contribuem para a edificação de uma sociedade democrática”.

 

Hino da anistia

O nome da operação da PF, “Esperança equilibrista”, foi criticada por  João Bosco, autor do hino contra a ditadura, a canção “O bêbado e o equilibrista”,em parceria com Aldir Blanc. “Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental”, disse. O músico também defendeu a universidade pública, “espaço fundamental para a promoção de igualdades na sociedade brasileira”.

 

Com informações: SINDIFES /Brasil 247

 

Assessoria de Comunicação FASUBRA Sindical

 

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